Sobre exemplos de infinitivo não flexionado
[Pergunta]
Apesar de ser um tema recorrente, gostaria da opinião objetiva dos
consultores sobre a seguinte afirmação encontrada em outra gramática:
«Se o infinitivo é complemento de verbo, adjetivo ou substantivo, não
devemos flexionar», na qual apresenta os seguintes exemplos:
a) «Ele sempre proíbe os empregados de sair no horário»;b) «Não estamos dispostos a desistir tão facilmente».
Se considerarmos que em a) o sujeito do verbo «proíbe» é «ele», e o do verbo «sair» é «os empregados», não seria correto flexionar o infinitivo sair? Ou o correto é mesmo não o flexionar, e analisá-lo como integrante da sequência «proíbe de sair». Com relação ao exemplo b), usando o mesmo raciocínio de se identificar o sujeito, percebe-se claramente que só há um, que se encontra subentendido («nós»). Ou aqui cabe a análise de que o infinitivo é complemento do adjetivo «dispostos»?
Valter da Silva Pinto :: Oficial de justiça :: Mogi das Cruzes, Brasil
[Resposta] Analisemos então os exemplos apresentados:
a) «Ele sempre proíbe os empregados de sair no horário.»
Embora nesta construção existam dois sujeitos diferentes, o verbo da primeira oração (proibir) é abrangido por uma regra diferente.
Assim, a forma verbal «sair» está dependente de um verbo causativo (proibir, à semelhança de deixar, mandar, fazer e outros). Segundo Napoleão Mendes de Almeida (Dicionário de Questões Vernáculas),
quando se apresenta um infinitivo («sair») com sujeito próprio («os
empregados»), dependente de um verbo («proíbe») que tem sujeito próprio
(«ele»), o infinitivo não se flexiona:
«Ele sempre proíbe os empregados de sair no horário.»
Para Evanildo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa),
esta é também a norma. Em Portugal, no entanto, existe uma maior
flexibilidade, pois «costuma ocorrer também a forma flexionada quando
entre o auxiliar e o infinitivo se insere o sujeito deste, expresso por
substantivo ou equivalente» (Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra):
«Ele sempre proíbe os empregados de sair no horário» ou
«Ele sempre proíbe os empregados de saírem no horário».
Em
todos os autores, se a forma infinitiva vier imediatamente depois
desses verbos ou separada deles apenas pelo sujeito, expresso por um
pronome oblíquo, emprega-se sempre a forma não flexionada:
«Ele proíbe-os de sair no horário» e não
*«Ele proíbe-os de saírem no horário».
b) «Não estamos dispostos a desistir tão facilmente.»
Neste exemplo, o infinitivo não pode ser flexionado. Para além de haver um único sujeito («nós»), é como se o infinitivo fizesse parte de uma locução verbal:
«Não estamos dispostos a desistir tão facilmente» =
= «Não nos dispomos a desistir tão facilmente»,
«Não queremos desistir tão facilmente».
Este
exemplo pode ser inserido numa norma segundo a qual não flexionamos o
infinitivo quando este é complemento de um adjectivo, de um substantivo
ou de um verbo em construções que correspondem a determinadas formas
latinas, que vieram a ser substituídas por preposição mais infinitivo.
São exemplo disso:
«Em pânico, as pessoas ficam incapazes de raciocinar»;
«Eles estão destinados a realizar grandes feitos»;
«Deixámos algumas cartas por escrever»;
«Tais resultados eram de prever».
O mesmo acontece quando o infinitivo é complemento de substantivo ou de adjectivo e tem sentido passivo:
«Estes são ossos duros de roer»; «Há muitas tarefas por realizar».
Penso
que o excerto gramatical que transcreve se refere a esta regra, mas,
sem outro enquadramento, pode induzir em erro, dado que esta é uma
matéria bastante vasta e complexa.
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