Thursday, 16 January 2014

Haja vista...

Haja vista...

[Pergunta] Sendo português e residente no Brasil há muitos anos tenho usufruido momentos de grande prazer desta vossa criação. Sou dos que sofrem perante os maus tratos que tantos dão à nossa língua! A minha pergunta: «Haja visto, haja vistas...». A expressão, constantemente usada, soa muito mal em certas ocasiões. Afinal, devemos usá-la sob regência? Há necessidade de concordância?
Tenho ouvido:
Haja vista a ocorrência de...
Haja visto que nem sempre...
Haja visto o exemplo dado...
Haja vistas para tais casos...

Rui Lopes dos Santos :: :: Brasil

[Resposta] Caro compatriota, fomos encontrar no Dicionário de Questões Vernáculas de Napoleão Mendes de Almeida, gramático brasileiro, a resposta para a sua dúvida. «Haja vista» é uma expressão perifrástica, transitiva e invariável que equivale a «veja»: «Haja vista os exemplos dos antigos», «Haja vista as medidas tomadas pelo presidente». E abona a sua interpretação com citações de três clássicos, cultores da língua portuguesa: Castilho (Haja vista às tão preciosas e admiráveis fábulas de La Fontaine), Filinto Elísio (Haja vista a Plutarco e Xenofonte), Camilo (Haja vista dos elos que eles representam na cadeia da criação).
Resumindo, o sentido deste modo de dizer elíptico será « o leitor ou quem quer que seja tenha a vista lançada a...». O vocábulo que se lhe segue é o complemento (ou objecto) directo da expressão verbal.

Teresa Álvares :: 01/03/1997 

 

 

«Haja visto» ou «haja vista»?

[Pergunta] Qual o uso correcto? «Ermenegildo não virá hoje, haja visto (ou haja vista) encontrar-se no estrangeiro.»

Gomes :: :: Brasil

[Resposta] Parece que é sobretudo no Brasil que surgem problemas com a forma desta locução.
A que está atestada é haja vista, que significa «leve-se em conta, considere-se (algo que indica, confirma ou ilustra aquilo que se afirmou anteriormente); haja em vista» (Dicionário Houaiss Eletrônico) e é equivalente de haja em vista. Transcrevo os comentários sobre esta locução que se encontram no Dicionário Houaiss: «[...] haja vista pode reger ou não a partícula a (lutaremos, haja vista [a] o armamento que já reunimos) ou a partícula de (haja vista das razões expostas); tb. pode manter-se invariável (haja vista as armas que já reunimos) ou pode flexionar o substantivo vista (haja vistas as armas; haja visto o armamento que reunimos) ou o verbo haver (hajam vista os argumentos apresentados); quando rege a partícula em, permanece invariável (haja em vista as armas).» Outra coisa é saber se a expressão haja vista pode ser utilizada no contexto apresentado pela pergunta. O que aí se vê é que a locução é seguida de uma oração cujo sujeito está subentendido, mas retoma anaforicamente o da oração anterior («Ermenegildo»), e cujo predicado é constituído por um infinito flexionado («encontrar-se»). Acontece que, nos dicionários consultados, o uso da locução está atestado com expressões nominais e nunca com orações. Há, portanto, alguma confusão no uso de haja vista, que, na frase que nos é proposta, deveria ser substituída por dado ou visto, que têm valor conjuncional causal («porque») e admitem a introdução de orações de infinito: «Ermenegildo não virá hoje, visto encontrar-se no estrangeiro.»

Carlos Rocha :: 20/09/2005

 

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