O gerúndio
Maria Regina Rocha*
O gerúndio é uma forma verbal terminada em -ndo — cantando, dizendo, partindo, pondo
—, invariável, e que provém do latim. Utiliza-se em várias situações,
ora exprimindo o modo, ora integrada na conjugação perifrástica.
Exemplos do emprego do gerúndio na expressão de modo:
(1) «Os trabalhos recomeçaram, processando-se a bom ritmo.»
(2) «Lá foram eles, cantando e rindo.»
(2) «Lá foram eles, cantando e rindo.»
A
perifrástica é uma forma de conjugação verbal em que se utiliza um
verbo no infinitivo ou no gerúndio e um verbo auxiliar. Por exemplo, a
frase «estou a ouvir este programa» — ou «estou ouvindo este programa»,
como dizem no Brasil — é um exemplo de conjugação perifrástica.
Os auxiliares usados na conjugação perifrástica são os verbos estar, andar, ir e vir, que traduzem diferentes aspectos da acção.
Por exemplo, se for o auxiliar estar, a conjugação perifrástica indica uma acção durativa que decorre num momento específico.
Exemplos:
(3) «Quando entrei, ela estava a dormir (ou estava dormindo) profundamente.»
(4) «Ele está a fazer o que pode para resolver a situação (ou está fazendo).»
(4) «Ele está a fazer o que pode para resolver a situação (ou está fazendo).»
Em Portugal, usa-se o verbo no infinitivo (estava a dormir, está a fazer), mas no Brasil usa-se no gerúndio (estava dormindo, está fazendo).
Com o auxiliar andar, a acção continua a ser durativa, mas é uma acção em que predomina a ideia de movimento repetido.
Exemplo:
(5) «Ele anda a estudar este assunto há algum tempo (ou anda estudando).»
Na conjugação perifrástica com o auxiliar ir,
utiliza-se o gerúndio tanto em Portugal como no Brasil. E com esse
auxiliar continua a ideia de duração, de uma acção que se prolonga no
tempo, mas que se realiza progressivamente, por etapas sucessivas.
Exemplos:
(6) «Vou vendo o que acontece.»
(7) «As luzes iam-se acendendo à medida que ela passava.»
(8) «O tempo vai passando, e continua tudo na mesma.»
(7) «As luzes iam-se acendendo à medida que ela passava.»
(8) «O tempo vai passando, e continua tudo na mesma.»
Na conjugação perifrástica com o auxiliar vir, constrói-se uma acção durativa que se desenvolve gradualmente em direcção ao momento ou ao espaço em que nos encontramos.
Exemplo:
(9) «Olhem quem vem chegando!»
(frase do comentador brasileiro quando Carlos Lopes venceu a maratona,
nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 12 de Agosto de 1984)
Em
suma, o gerúndio é usado precisamente para traduzir uma acção que se
prolonga no tempo. A língua portuguesa tem esta riqueza de poder
traduzir diferentes matizes de uma acção.
É diferente dizer eu faço — que é um presente do indicativo, na conjugação simples — e eu estou fazendo — que é a conjugação perifrástica, que utiliza o gerúndio.
Ambas
as formas estão no presente, mas a forma simples enuncia um facto
actual, pontual, de realização imediata, breve, enquanto eu estou fazendo sugere a duração, eventualmente a demora, o prolongamento no tempo.
Comentando o caso da notícia
que nos chega do Brasil, claro que eu não demitira o gerúndio, pois é
uma forma verbal que traduz uma realidade diferente da que é transmitida
por meio da utilização da forma simples. Suprimir esta forma seria
amputar a língua de uma das suas riquezas: veja-se a beleza da frase «A
noite vem chegando de mansinho», de Fernando Namora (O Rio Triste)...
Ler também:
04/10/2007
Sobre a autora
* licenciada em Filologia Românica pela
Universidade de Lisboa; parte curricular do mestrado em Ciências da
Educação, pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da
Universidade de Coimbra; professora na Escola Superior de Educação de
Coimbra, onde
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