O uso do se junto a verbos no infinitivo e no gerúndio
[Pergunta]
Recentemente, deparei-me com um tópico envolvendo a escrita no nosso
idioma que acabou por me gerar duas dúvidas próximas entre si, por isso
tomo a liberdade de apresentá-las em conjunto ao Ciberdúvidas. Trata-se
do uso do se junto a verbos no infinitivo e no gerúndio (excluindo da discussão verbos pronominais/reflexivos, que sem dúvida exigiriam o se).
Fui
informado que em diversos casos envolvendo o infinitivo impessoal, já
carregando ele impessoalidade e valor passivo, será dispensável o uso do
se tanto como índice de
indeterminação do sujeito quanto como pronome apassivador. Cito alguns
exemplos: «Fazer o bem é importante» (e não «Fazer-se o bem»), «Osso
duro de roer» (e não «duro de roer-se»), «Hora de chamar a polícia» (e
não «de chamar-se a polícia»). Gostaria de perguntar se, em casos como
esses, o uso do se é meramente dispensável ou, mais do que isso, é proibido. Se meu entendimento (leigo) não é falho, suponho que a presença do se
simplesmente assinalaria a voz passiva ou o índice de indeterminação do
sujeito (conforme o caso), daí a dúvida quanto a uma estrita proibição
de seu uso em decorrência do infinitivo impessoal.No entanto, o assunto trouxe-me outra dúvida, para mim mais difícil ainda de resolver. A linha de pensamento exposta acima, se correta, aplicar-se-ia ao gerúndio também? Dizendo de outro modo, o gerúndio pode tornar o índice de indeterminação do sujeito e o pronome apassivador se igualmente dispensáveis? Apresento alguns casos a seguir e sobre eles gostaria de perguntar se o se é necessário, facultativo ou, até mesmo, proibido.
1) «Levando-se em conta a crise, bom seria aumentar a poupança.»
2) «A obra desses poetas, considerando-se o pouco que viveram, é vastíssima.»
3) «Pensando-se em casos como o dele, não pode haver dúvidas quanto ao perigo de fumar.»
4) «Vivendo-se, daí vem a paciência.»
Muito obrigado.
Parabéns pelo site!
David Bento :: Estudante :: São Bernardo do Campo, Brasil
[Resposta] Comecemos por repetir, numerando, os exemplos que apresenta:
1. «Fazer o bem é importante.» 2. «Osso duro de roer.»
3. «Hora de chamar a polícia.»
4. «Levando-se em conta a crise, bom seria aumentar a poupança.»
5. «A obra desses poetas, considerando-se o pouco que viveram, é vastíssima.»
6. «Pensando-se em casos como o dele, não pode haver dúvidas quanto ao perigo de fumar.»
7. «Vivendo-se, daí vem a paciência.»Salvaguardadas opções de estilo, ou mesmo de maior ou menor formalidade, em todas as frases é possível a presença do se, ainda que não propriamente em posição enclítica, ou seja, depois do verbo. Exemplifiquemos com 1, repetido como 8:
8. «É importante fazer-se o bem.»
Segundo a minha interpretação, o se, em 8, como em 9 e 10 abaixo, tanto pode ser lido como apassivante (é importante o bem ser feito/que o bem seja feito), ou como indeterminado (é importante alguém fazer o bem). No entanto, porque o verbo é transitivo, muitas pessoas considerá-lo-iam apenas como apassivante. No caso das frases 2 e 3, a presença da preposição exigiria que o pronome fosse colocado em próclise, ou seja, antes do verbo:
9. «Osso duro de se roer.»
10. «Hora de se chamar a polícia.»
Voltando à presença do se, note-se que os três exemplos que apresenta, e que vão numerados de 1 a 3, são expressões muito comuns que tendem a reduzir-se à forma mínima, um pouco como acontece com os provérbios. Talvez seja, sobretudo, esse facto que faz que o se possa não ser expresso. Por outro lado, o facto de não terem o pronome faz que sejam mais abstractas e abrangentes.
As frases 4 a 7, em que o verbo surge no gerúndio, estão igualmente bem formadas com o pronome e, se este não estivesse expresso, ganhariam, igualmente, uma maior abstracção.
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