“(...)
ela abandonara-se-lhe absolutamente, toda inteira, corpo, alma, vontade e
sentimento: não havia na sua pele um cabelinho, não corria no seu cérebro
uma ideia a mais pequenina, que não pertencesse ao senhor pároco. Aquela possessão
de todo o seu ser não a invadira gradualmente; fora completa, no momento
que os seus fortes braços se tinham fechado sobre ela. Parecia que os
beijos dele lhe tinham sorvido, esgotado a alma: agora era como uma
dependência inerte da sua pessoa. E não lho ocultava; gozava em
se humilhar, oferecer-se sempre, sentir-se toda dele, toda escrava; queria
que ele pensasse por ela e vivesse por ela; descarregara-se nele, com satisfação, daquele fardo da
responsabilidade que sempre lhe pesara na vida; os seus juízos agora vinham-lhe
formados do cérebro do pároco, tão naturalmente como se saísse do coração
dele o sangue que lhe corria nas veias.”
O
Crime do Padre Amaro,
Eça de Queirós, p. 350
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